terça-feira, 31 de outubro de 2017

Quando a família entra no jogo


Se é difícil delimitar quando o uso de drogas deixa de ser recreativo e o vício se instala, tão difícil quanto é saber o tanto que uma família pode adoecer com um dependente químico em seu ciclo.

Depois que a família se dá conta do tamanho do problema que é a adicção (termo utilizado em vários meios – científico, Narcóticos Anônimos e suas extensões, entre outros – para designar a incorporação do uso de substâncias psicoativas na rotina de vida de um indivíduo) é instalado, de uma maneira menor ou maior, o que chamamos de co-dependência. Geralmente afeta com maior veemência os pais, irmãos, filhos e conjugues (a família nuclear) e caracteriza-se pelo desespero maior que é a possibilidade de perder aquele indivíduo amado para as drogas.

Quando falamos em perder o indivíduo para as drogas, falamos em adictos (palavra usada para fazer referência a quem adicionou o uso de substâncias em sua rotina de vida – o viciado, o dependente) que podem morrer por uma overdose, podem ser presos por conviver em meio a traficantes, podem roubar objetos em casa, podem cometer atos ilícitos na rua e serem presos, podem se prostituir, serem contaminados por doenças sexualmente transmissíveis ou outras por compartilhar objetos do uso de drogas.

Essa situação de total descontrole sobre o presente e o futuro do usuário de drogas e/ou alcoolistas traz uma angústia devastadora para os familiares que acabam adoecendo emocionalmente junto ao ente querido.

É tão sério que grupos ao estilo N.A. e A.A. foram criados para tratar a co-dependência. Os mais conhecidos hoje são: Amor Exigente:  https://amorexigente.org.br/ e Nar Anon:  http://www.naranon.org.br/  .   

Eu já pesquisava sobre as características de uma pessoa viciada em cocaína. Já sentia em minha alma que havia transgredido a “linha de segurança”. Sempre estava em busca da droga ou em uso. Mesmo nas reuniões familiares, no trabalho, no relacionamento afetivo eu consumia a droga. Já usava no banheiro da casa religiosa que frequentava (o que para mim era o fim do poço). Mas conseguia, com certa lucidez, usar pouca quantidade e não tinha nenhuma característica de uma pessoa drogada.

A cocaína ativa o cérebro e deixa poucos rastros em quem a consome. Diferente de outras drogas, como o álcool, por exemplo, que é impossível disfarçar. (Vamos falar de cada droga no decorrer dos posts. Mande-me um e-mail no endereço que criei especialmente para falar com vocês: dependenciaquimicaoficial@gmail.com , sigam-me aqui no lado direito do texto e cadastrem-se deixando seu e-mail para estreitarmos nossa comunicação, para que eu os ouça. Ficarei muito feliz e animada com o retorno de vocês.).

Quando em um dia, havia mais de um ano de uso excessivo, voltei da casa de meu namorado (que nunca desconfiara de minha dependência). Estava em uso havia dias. Ingeri de forma errada a medicação que havia costume de tomar para tratar depressão e outros transtornos mentais e em alguns minutos comecei a passar mal. Deitada na cama não conseguia enxergar direito, tudo virou vulto. 

Estava a conversar com uma amiga através do Messenger e, ao perceber que não conseguia enxergar direito e nem segurar o celular nas mãos (estava perdendo a coordenação motora), me despedi rapidamente e tratei de tentar entender o que estava acontecendo. Tente me levantar da cama e não tinha domínio sobre minhas pernas.

Entrei em pânico.

A porta do meu quarto estava trancada. Eu tinha dois papelotes de cocaína comigo e pretendia continuar usando (quando cheguei em casa, antes de passar mal). Então liguei para minha irmã que morava na mesma casa que eu(até hoje não sei como consegui, pois não enxergava os números no celular e não tinha mais coordenação motora) e falei que estava passando mal, para ela abrir o portão para meu namorado que arrombaria a porta do meu quarto. Liguei para meu namorado em seguida e pedi que viesse à minha casa e arrombasse a porta do quarto pois estava passando muito mal.

Escondi um papelote num fundo falso de uma carteira e outro na fronha de um travesseiro.
Assim que escondi a droga comecei a vomitar. Meu namorado chegou e ele e minha irmã tentavam pela janela saber porque eu não abria a porta. Então eu falava em desespero : -arrombem! Estou morrendo! Bebi muito remédio!

Eu vi a morte.

Pensava todo o tempo que estava tendo uma overdose e que iria partir dessa vida. Eu não queria partir daquele jeito. Eu não queria ter essa como minha história. Eu não queria ter começado a usar drogas, eu não queria machucar minha família.

Eu não queria morrer!


Continua no próximo post. Minha conversa com o médico, com minha irmã que achou a droga e com  o namorado.

Pensava todo o tempo que estava tendo uma overdose e que iria partir dessa vida. Eu não queria partir daquele jeito. Eu não queria ter essa como minha história. Eu não queria ter começado a usar drogas, eu não queria machucar minha família.

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